Como é ser introvertido na sociedade do ruído
No país do “calor humano”, tudo é festa. Você desce no elevador, tem que puxar assunto. Futebol, sempre. Quantas vezes me senti na obrigação de falar sobre o Flamengo ou o Corinthians com motoristas de Uber ou (des)conhecidos só para forçar conexão.
Aqui, ninguém pergunta “como você está?”. A pergunta é sempre “tudo bem?” — e a resposta correta deve ser “tudo ótimo, e você?”. Dizer “não, não tô bem” ou simplesmente “não tô a fim de papo agora” seria interpretado quase como um desvio de caráter.
Isso começa cedo. Lá na escola, quem era quieto já recebia uma observação no boletim: “precisa interagir mais com os colegas.” Na família, o mais introspectivo era visto como estranho, doente ou arrogante. Na faculdade, era esquisito. Na vida adulta, virou problema.
Não existe associação dos introvertidos, mas dos líderes de turma e de torcida, sim. A “galera” é quem dita o tom. O introvertido que se adapte. No ambiente de trabalho, a coisa só piora. A necessidade de parecer é maior do que a de realizar.
Desde cedo, o Brasil nos ensina: para sermos aceitos, temos que ser animados. No país do ruído, todos querem falar. Poucos sabem — ou querem — ouvir. Mas o introvertido não é triste. Nem deprimido. Nem inseguro. Ele só quer um pouco de paz. Um pouco de espaço. Um pouco de silêncio.
Susan Cain, no livro O Poder dos Quietos, afirma:
“Em um mundo que não para de falar, escolher o silêncio é um ato de coragem”. E talvez o maior desafio do introvertido no Brasil não seja o barulho — seja o julgamento.
Está na hora de revermos isso. Nem todo silêncio é vazio. Quanto mais a gente é, menos precisa mostrar.