Deixa de ser palhaço!
Infelizmente, eu ainda não posso me considerar um palhaço. Mas nesse final de semana tive a oportunidade de experimentar um pouco do que é ser, literalmente, um palhaço. Participei de um workshop de palhaçaria na Casa 11, em São Paulo.
Quando me matriculei não fazia ideia do que iria encontrar, mas esse parágrafo do programa do curso Palhaçaria para se (re)conhecer me chamou atenção:
Esse é um convite diferente: aqui, você não vai se resolver com seriedade demais, nem com fórmulas prontas. Vai se (re)descobrir por um caminho lúdico, profundo e surpreendente: o da palhaçaria misturada com psicologia.
Talvez tenha sido a interseção entre o lúdico e a psicologia que me atraiu. Ou, o simples fato de experimentar algo totalmente novo, desconhecido e fora do nosso universo corporativo e familiar.
Foi intenso, desconfortável em alguns momentos e, acima de tudo, transformador. Aprendi, por exemplo, que na linguagem da palhaçaria, ser “idiota” é um elogio: é reconhecer a vulnerabilidade, rir de si mesmo e valorizar o erro. A graça do palhaço está aí.
Também aprendi algo muito maior: o quanto estamos perdendo, na vida e no trabalho, a capacidade de brincar.
Tudo virou utilitarismo.
O sono precisa ser monitorado por aplicativos.
O exercício deve ser medido no Garmin ou Apple Watch.
No mundo do trabalho, tudo é métrica, KPI, planilha.
E onde fica o espaço do lúdico, do improviso, do humor (aqui)
O palhaço me (re)conectou a coisas simples e essenciais:
- A diferença entre olhar e enxergar.
- Entre ouvir e escutar.
- O poder de rir de si mesmo e não se levar tão a sério.
Na palhaçaria, existe sempre uma triangulação: o palhaço, o objeto e a plateia. É no olhar e na escuta que a conexão acontece.
Não é justamente isso que sentimos falta em nossos relacionamentos com colegas de trabalho, amigos e até com nossos pais e filhos?
Se você me perguntar por que fiz esse curso, eu não sei. Talvez porque eu quisesse encontrar o humor nas coisas simples do dia a dia. Quem sabe, porque eu quisesse me desconectar de tantas finalidades e simplesmente me permitir errar sem ser julgado, me divertir…
Embora eu não tenha conseguido fazer meus colegas rirem, saí de lá me achando um palhaço. Com uma boa dose de pretensão e orgulho.
Também me comprometi, a resgatar esse nosso “eu” que vamos deixando para trás. Uma das iniciativas será a de buscar, de tempos em tempos, atividades totalmente diversas do nosso dia a dia. Sem utilidade, sem métrica ou uma finalidade específica. Me permitir simplesmente estar, ser e me divertir.
Nossa vida e o mundo ao redor agradecem.
Deixo para você uma provocação:
Qual foi a última vez que fez algo totalmente fora do seu ambiente controlado sem uma finalidade específica, e por pura diversão?
Quem ficou curioso sobre a imagem que usei, ao invés da clássica cena do nariz vermelho, explico: a caracterização é uma das últimas etapas na formação de um palhaço. Esse processo costuma levar até dois anos e meio. Por respeito ao que aprendi, preferi usar a imagem da escola, que representa melhor a jornada do palhaço.
No meu livro Global Workers: Escolha seu melhor futuro, cito uma das falas inspiradoras de Pepe Mujica: a vida é muito mais do que só trabalhar. É sobre isso que se trata. Precisamos construir uma vida com mais sentido(os) e leveza, e sem uma carreira bem planejada fica impossível alcançarmos esse modo de viver.